Quem trabalha no setor automotivo sabe que muitas vezes a hierarquização e a burocracia das empresas impedem que inovações sejam feitas tanto no nível de gerenciamento quanto de processos. O B2B automotivo, formado por indústrias do setor, antes símbolo da 2ª Revolução Industrial, de acordo com pesquisas, vem encontrando dificuldade em se adaptar a digitalização, grande protagonista da 4ª Revolução industrial.
Recentemente, a consultoria Roland Berger e o Google conduziram uma pesquisa com 2.745 executivos de vendas do B2B automotivo, da engenharia elétrica e dos bens industriais para saber mais sobre o B2B e a digitalização.
Os resultados fascinantes chamaram a atenção, uma vez que, como conclusão do estudo, percebeu-se que a digitalização está rapidamente mudando o cenário do B2B, mas as empresas ainda subestimam a importância estratégica da área de vendas e muitas ainda sofrem em implementar projetos de transformação digital em suas companhias
As causas desta dificuldade:
1) Visão dos líderes, que não concordam quanto às soluções disponíveis e as mudanças necessárias, acreditando que elas devam ser feitas internamente de maneira vertical.
2) Viés de TI, que tende a abordar o tema sob a ótica de tecnologia e engenharia e não como visão integrada de soluções que envolvem também a área comercial e de gestão.
Diante de um futuro desafiador, sugere-se que as empresas devem mudar perspectivas para construir uma estratégia de modernização de sua inserção produtiva e tecnológica.
A formação do B2B automotivo brasileiro
De acordo com dados da Anfavea, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. o setor representa cerca de 5% do produto interno bruto (PIB) brasileiro e pouco mais de 20% do PIB da indústria de transformação. Existem hoje cerca de 27 empresas fabricantes de veículos e 446 empresas de autopeças.
No país, é expressiva a presença de montadoras multinacionais de capital estrangeiro. Isto porque a decada de 90 foi responsável por uma desnacionalização do segmento. de autopeças, que, desde então, passou a ser dominado
por empresas de capital estrangeiro.
Mesmo sendo um mercado maduro a diferenciação entre empresas acontece por meio dos produtos. Por isso, tanto montadoras quanto industrias de autopeças precisam investir em design, engenharia, bem como propaganda e marketing.
Além das montadoras, existem outras camadas do segmento, formadas pelos tiers 2 e 3. Estas são empresas de capital nacional, que não são responsáveis pelos grandes desenvolvimentos tecnológicos do setor, ainda concentrados no tier 1.
O termo Tier é um indicativo da proximidade da cadeira de fornecimento com a montadora. Logo, o Tier 1 é formado por fornecedores direto de componentes a montadoras, o 2 seria o fornecedor do fornecedor, e assim por diante.
Atualmente, existe uma preocupação em otimizar os custos da cadeia de suprimentos na indústria automotiva. Este é o grande desafio para nosso mercado nacional, que precisa oferecer componentes de maneira rápida, respeitando modelos de produção just in time e just in sequence utilizado pelas montadoras. Mas não é só isso.
A tecnologia tem sido utilizada com foco numa gestão chamada de Lean Manufacturing, um processo de produção baseado na ideologia de maximizar a produtividade e, ao mesmo tempo, minimizar o desperdício em uma operação de manufatura.
E o que isso tem a ver com a digitalização? Acompanhe.
Mudanças necessárias: perspectivas
A digitalização e a transformação tecnológica são os grandes responsáveis pela mudança das relações B2B atuais, tendo como barreiras orçamentos tímidos dos tiers 2 e 3 frente ao que seria necessário para uma transformação em larga escala.
Mas, essa transformação acabou impulsionada no ano de 2020 pelas condições de isolamento causadas com a epidemia da COVID-19. Então, as empresas precisaram buscar saídas para continuarem competitivas.
Dentre elas, está garantir uma jornada otimizada para uma efetiva atuação da área vendas, focada na digitalização a médio e longo prazos.
Sobre o tema, abaixo encontra-se uma Live da Automotive Business, que debateu os resultados da pesquisa Cenários para a Indústria Automobilística, com Marcus Ayres, sócio da Roland Berger, Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil e Silvio Furtado, diretor de vendas para veículos comerciais e tecnologia industrial da ZF.
Desafios
Setores como trailers e semitrailers (caminhões e reboques) foram impulsionados pelo Agronegócios, já a Logística industrial foi impulsionada pela volta das fábricas e do comércio eletrônico que demanda bastante da cadeia de entregas. Entretanto, nem tudo são flores.
O desabastecimento foi implacável principalmente no setor de leves, mas há um movimento contínuo de crescimento. De acordo com a entrevista da Automotive Business a falta de componentes e semi condutores é o grande desafio de 2021.
Conforme o vídeo, entre os principais pontos citados estão:
- a indústria de semi condutores acabou focando em componentes eletrônicos e tecnológicos para garantir a produção à distância, causando desabastecimento para o setor automotivo,
- a falta e o alto valor de matérias-primas como aço e borracha.
Existe a necessidade de reestabelecimento da produção das fábricas de componentes para garantir a produção final dos veículos, que funciona just in sequence.
Certamente, os custos aumentaram pelo arranjo complexo da cadeia produtiva, pelos altos valores das matérias-primas básicas como aço, alta de combustíveis e logística em geral. Como resultado, isso acabou refletido no valor de modelos de veículos, que sofreram reajustes de até 25%, algo que não era previsto pelo setor.
O Futuro
As tendências do setor continuam sendo a eletrificação veicular, conectividade e veículos autônomos. No entanto, a principal preocupação das empresas passa a ser a redução de custos e otimização de processos para mitigar essas questões e garantir competitividade.
Durante a entrevista, ouve-se sobre o termo MADE, um acrônimo para Mobilidade, Autônomos, Digitalização e Eletrificação, que fazem parte das oportunidades para o segmento. Destaca-se a digitalização, que ocorre em toda a linha de produção, com evidência nas inovações de produto. Existe a necessidade da informação real time para ganho de eficiência, visto que os modos de produção muitas vezes são in sequence.
É importante investir na indústria 4.0 inclusive nos pequenos fornecedores, que precisam estar digitalizados e inseridos nessa nossa indústria para facilitar negociações.
Os próximos anos serão de muita inovação no setor automobilístico e o Brasil está investindo em adaptar-se a essas novas perspectivas. Dentre as novas legislações e regras encontramos o Rota 30 e o Euro 6, que definem necessidades de apoiar o desenvolvimento tecnológico, a competividade, a inovação, a segurança veicular, a proteção ao meio ambiente, a eficiência energética e a qualidade dos automóveis.
As novas demandas do mercado e os desafios para indústria são inúmeros. A hora de inovar no B2B automotivo é agora.